Ao realizar o presente trabalho, podemos constatar que a gagueira não é uma doença, como imaginávamos que fosse. Trata-se pois de um transtorno ou distúrbio da fala, agravado por vários motivos que vamos elencar aqui, no decorrer da escrita.
Quando começamos a pensar e conversar sobre o assunto, logo levantamos uma certeza provisória:a gagueira é uma doença,mas ao passarmos para a pesquisa, descobrimos que não tratava-se disto.
Então, o que fazer? Como classificá-la? Como tratar uma criança gaga?
Para responder estes e outros questionamentos começamos a ler, pesquisar, entrevistar profissionais e tentamos contato com uma pessoa com gagueira.
Temos uma certeza entre tantas dúvidas:a gagueira é involuntária, o que não diminui a interferência na comunicação, no desempenho escolar e profissional.Por estes motivos, devemos "desvendar" estes "mistérios" que rondam a gagueira, para assim chegarmos a maneira certa de agir em relação a ela.
Lendo, descobrimos que existem pelo menos, três tipos de gagueira e cada uma delas têm sua particularidade:
- Psicológica-adquirida através de traumas e choques grandes.
- Genética-disfunção herdada de parentes.
- Neurológica-é aquela que não melhora nem quando a pessoa canta ou faz alguma atividade que proporcione a melhora.
Como já afirmamos antes, a gagueira interfere na vida profissional, escolar e pessoal de quem tem, pois as outras pessoas ridicularizam, menosprezam, debocham de quem gagueja. Mesmo quem não é gago, sofre com críticas, se gaguejar sem querer, imaginemos quem sofre deste problema! No campo profissional, diminuem-se as chances mais ainda, uma vez que as pessoas não contratam um gago a não ser para alguma função que não seja necessária a fala.
Alguns estudiosos associam a gagueira à prematuridade e nascimentos múltiplos, mas nenhuma destas teorias está confirmada. Na verdade, todos os textos lidos foram unânimes em afirmar que a causa da gagueira ainda não foi esclarecida, mas que vem sendo desvendada aos poucos.
Muitas são as certezas, não sobre a causa do aparecimento e sim, sobre o que piora ou agrava o quadro. Dentre algumas certezas elencadas nos diversos textos e artigos lidos, estão: emoções provocadas por críticas ou humilhações, insegurança e o medo do ridículo, propôr que pare a frase e recomece novamente, sugerir mudança de tom da fala, pedir para evitar palavras compridas ou difíceis de pronunciar e principalmente, falar para a criança parar de gaguejar.
Encontramos, em um blog de um rapaz, que vamos identificar como X, o relato de como foi humilhante para ele tentar ler em sala de aula, não só por ter sido debochado pelos colegas, mas por que em uma das ocasiões, o professor riu dele junto com os colegas, o que foi para ele a gota d'água.
Mas o que nos diz toda esta pesquisa a respeito das fases da gagueira? Em todos os textos, apareceram duas fases chamadas:primeira e secundária, devidamente caracterizadas.
Na primeira a criança ainda não tem consciência de suas dificuldades de fala mesmo que não apresente fluência na fala, pois manifesta-se, geralmente, dos 2 aos 4 anos, época que as crianças ainda estão aprendendo a falar.
Na secundária, o portador da gagueira já foi identificado pelos colegas e por ele mesmo como tal. Nesta fase necessita-se buscar tratamento e orientações para desenvolver o indivíduo e controlar a fala, pois a baixa auto-estima contribui para o aumento da gagueira.
Para compreendermos melhor como a gagueira é compreendida fizemos duas perguntas para quinze pessoas de diferentes profissões e níveis de conhecimento.
A primeira pergunta foi:
* Como você trataria uma pessoa com gagueira?
Todas as quinze pessoas foram unânimes em responder que tratariam com carinho (100% dos entrevistados); 6 pessoas manifestaram pena pela pessoa portadora de gagueira (40% dos entrevistados) paralelamente ao tratamento que dispensariam e 4 contaram piadas sobre gagueira (26,6% dos entrevistados).


Os dados nos demonstra que, mesmo dispostos a tratarem com carinho, ainda perdura a situação do deboche, da humilhação. Em um tempo onde fala-se tanto em inclusão, por que não trabalhar a inclusão de pessoas que gaguejam?
A segunda pergunta foi:
*Como você acha que deve ser incluída na escola e na sociedade uma pessoa que gagueja?
Dos quinze entrevistados, dez citaram que deve-se fazer com que as outras pessoas respeitem e não debochem (66% dos entrevistados); duas pessoas disseram que o acalmariam (13,3% dos entrevistados) e três o encorajariam a participar das atividades (20% dos entrevistados).

Devemos levar em conta, ao olharmos o resultado da entrevista, que as pessoas,em sua grande parte, não levam em conta ou não imaginam o sofrimento do portador de gagueira e o quanto seu distúrbio pode criar seqüelas psicológicas.As pessoas dão-se ao direito de debochar, fazer gracinha, ou até acharem que estão ajudando completando as palavras que o portador de gagueira tem dificuldade em falar.
Não vamos comentar aqui neste parágrafo o que fazer,como tratar, pois isto será objeto de explanação em outra parte do presente trabalho,mas vamos aproveitar para tratar a questão da educação,ou melhor,da questão da etiqueta social.Sim,existe um "guia" de etiqueta social para tratarmos alguém que seja portador de gagueira,conforme nos coloca Célia Ribeiro em seu artigo Respeito à gagueira:
"Quando existe intimidade, a tendência de quem está conversando com uma pessoa gaga é de completar a palavra que ela não consegue
pronunciar,uma falta de cortesia com um amigo que,já nervoso por sua falta de fluência, fica mais tenso.Melhor é ficar atento ao que ele
falar ,sem interrompê-lo,recomendando "calma,estou te ouvindo",se estiverem a sós.Ouvir sem chamar atenção para a gagueira, é a reação
socialmente mais gentil.
A gagueira é uma interrupção no meio de uma palavra na comunicação oral, parecida com aquele "branco" que todos os comunicadores e
oradores que falam de improviso enfrentam.O que dizer quando foge nosso pensamento em meio a uma entrevista?Apenas perguntar "onde
é mesmo que eu estava?".Geralmente ocorre quando se é interrompido no meio de uma exposição.Olhem só:tem tudo a ver com etiqueta."
(RIBEIRO,Célia.Respeito à gagueira.Zero hora,Porto Alegre,26 de outubro de 2008.Caderno Donna ZH,p.12.)
Como vimos no presente artigo,por mais que tenhamos intimidade não estaremos ajudando a pessoa e nem estaremos sendo educados para com ela.
De qualquer maneira, importa continuarmos a pesquisa para, talvez ao final, conseguirmos achar algum fio que nos leve ao crescimento da investigação. O que mais se aproxime do objetivo inicial da busca? Mudamos o objetivo inicial ? Ou a pesquisa científica não prescinde de certezas permanentes durante o seu percurso? Muitas coisas que são ditas, são ditas por quem está fora da situação, quem não é gago. Em várias situações da vida observamos pessoas que buscam respostas para determinados eventos e afirmam o que pensam muito conhecerem. Porque pesquisaram, mas não são o objeto da pesquisa. Em se tratando de pessoas, de seres humanos, a investigação é muito mais complexa. No depoimento de A. M, por exemplo, postado nesta pesquisa, é curioso notar que ele fala sempre na gagueira em um membro de uma família (no caso de sua família) que é o nascido no meio. Uma repetição que ocorre no seu grupo e que necessita uma reflexão. Um outro depoente gago, Ander., fala na dificuldade de pronunciar o som do "tr". Para ele, a trava da fala ocorre nesse momento. Já o terceiro gago, o músico E., não gagueja quando canta, mas tem grande dificuldade ao falar. Importante é construirmos sobre as informações, sobre as certezas provisórias.
Abaixo colocamos o link para a página DEPOIMENTOS,onde temos dois deles que diferem,pois em um, quem nos fala é um portador de gagueira e outro, é a narração de uma mãe após a descoberta da gagueira de seu filho,suas buscas por tratamentos, resultados,angústias e dúvidas.Achamos ser bem proveitoso!
Depoimentos
O que chamou nossa atenção,durante o relato desta mãe e de A., bem como nas pesquisas feitas,é que existe uma espécie de "comportamento padrão" a quem sofre de gagueira:timidez como forma de defenderem-se, a pessoa fecha-se a qualquer possibilidade de exposição e desenvolve "tiques" como piscar, bater o pé no chão e outros(chamados movimentos voluntários compensatórios).
Como a pessoa sente vergonha da gagueira, acaba gerando a necessidade de disfarçá-la, lançando mão de truques como:substituição de palavras,reformulação de frases e etc.Disfarçar a gagueira torna-se muitas vezes o foco central da vida.
"Por mais que a pessoa com gagueira queira disfarçá-la, por mais que dedique-se a eterna vigilância, a pessoa não consegue fugir de
suas dificuldades.Além da vergonha, a pessoa se sente culpada pela gagueira, vendo-se obrigada a compensar a gagueira,sendo
muito eficiente em outra atividade, o que deve merecer cuidado,pois esta compensação poder conduzir ao sucesso aparente,mas não
ao ajustamento pessoal." MERLO,Sandra.Gagueira.Disponível em http://www.linguagemdireta.com.br/publicar/conteúdo.php?ID=53
"Dados estatíticos apontam para duas prováveis causas da gagueira que seriam:
1-HEREDITARIEDADE: em torno de 55% das pessoas que gaguejam apresentam predisposição genética para a gagueira.Os indícios de predisposição
genética incluem:presença de outras pessoas na família que gaguejam ou já gaguejaram,presença de outras pessoas na família
que falam rápido,início de gagueira entre 2 e 4 anos de idade e outros.
2-LESÃO CEREBRAL: em torno de 45% das pessoas que gaguejam apresentam lesão cerebral como causa primária da gagueira.Indícios de lesão
cerebral incluem:prematuridade,baixo peso ao nascer,hipóxia ao nascer, traumatismo craniano,"derrame",entre outros."
MERLO,Sandra.Gagueira.Disponível em http://www.linguagemdireta.com.br/publicar/conteúdo.php?ID=53
Sandra Merlo afirma que precisa-se desmistificar como causas da gagueira, o que as pessoas alegam,tais como:sustos,nervosismo e ansiedade,insegurança,timidez,baixa auto-estima,estresse e pensamento mais rápido que o falar.
Não podem serem encarados como causas e sim como conseqüências do quadro,alguns destes vêm em decorrência da gagueira,tais como:a baixa auto-estima,a insegurança, o nervosismo, a ansiedade e o estresse.
Outro dado importante é que a gagueira afeta mais o sexo masculino do que o feminino, numa proporção de 3:1.Isto quer dizer que há três vezes mais homens do que mulheres entre a população que gagueja.
Durante toda pesquisa, a pergunta que pairou sem resposta era:por que a pessoa que tem gagueira ao cantar não gagueja?Vamos agora respondê-la de acordo com o resultado da pesquisa:
"Dependendo do contexto a fala é processada por diferentes partes do cérebro.As variações situacionais da gagueira-embora possam soar
indevidamente como um problema emocional ou de ansiedade social-refletem apenas diferenças no modo como o cérebro processa a fala de
acordo com a circunstância,usando um de dois sistemas pré-motores para fazer a temporalização do movimento:o sistema pré-motor medial,
ou o sistema pré-motor lateral.Na gagueira,o sistema pré-motor medial,responsável pela fala espontânea e integrado pelos núcleos da base,
é o que tende a estar comprometido.Por outro lado, o sistema pré-motor lateral,responsável pela fala não-espontânea(como falar sozinho,
cantar,ler em coro,representar um personagem e sussurrar)e integrado pelo cerebelo,tende a estar íntegro.Assim, a melhora da gagueira em
situações que não envolvem fala espontânea é esperada e não significa que esta melhora possa ser transferida para a fala espontânea,uma
vez que são processamentos distintos."(disponível em: http://www.gagueira.org.br/mitos_sobre_gagueira.shtml)
Resumindo,a gagueira não afeta quando a pessoa canta,por que são diferentes áreas do cérebro que funcionam quando a fala espontânea é usada e quando a pessoa canta.
Quanto à este projeto,só o que podemos dizer é que não seria um processo estanque.Não teríamos como terminá-lo de vez,pois a pesquisa estendería-se por muito ainda,uma vez que notamos que quanto mais achávamos,mais procurávamos,maiores eram as curiosidades e os desafios.Ficamos surpresos com as descobertas e com os pré-conceitos que tínhamos,bem como o desconhecimento enquanto profissionais.O nosso projeto não acaba...ele segue,enquanto suscitar em nós a vontade de descobrir cada vez mais.Nossas dúvidas e certezas iniciais, fundiram-se e o rumo tomado mostrou-nos o quanto não sabíamos e quanto podemos saber através da pesquisa, através da curiosidade.Que sirva para usarmos este interesse em nosso dia-dia como profissionais, para benefício de nossos alunos.
Comments (14)
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 5:49 pm on Oct 14, 2008
Olá, Carla
Está ficando bom...
Abra@os
Anonymous said
at 2:18 pm on Oct 30, 2008
Professora:SOCORROOOOOO!!!!Deu um branco em mim!!!Não consigo lembrar como deixar os gráficos abertos aqui no wiki!!!!!!Podes me ajudar?Desde já obrigada!!!Beijos.
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 3:08 pm on Oct 30, 2008
Ok. Na verdade precisas copiar o gráfico e colar no Paint, por exemplo. Depois, publicas as imagens e colocas aqui.
Abra@os
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 4:19 pm on Oct 30, 2008
Pessoal, a página está muito interessante, mas não podem esquecer da questão principal. Acham que já conseguem responder pelo menos em parte à pergunta? Outra coisa: vocês falam em 3 tipos de gagueira. É interessante abrirem links em cada um dos tipos, para chamar páginas que tratam de cada um destes tipos. Ali será necessário referir material lido e que tenha base científica.
Anonymous said
at 9:53 pm on Oct 31, 2008
professora:obrigada pelos gráficos!!!Então vou direcionar o texto para começar a responder as perguntas...é isto?e colocar links para os 3 tipos,não?ok...farei isto.Na ZH de domingo,saiu uma matéria curta sobre etiqueta e a maneira mais certa de tratar o portador de gagueira, escrita na coluna da Célia Ribeiro...achei interessante do ponto de vista de como lidar...O que achas?Abraços e mais uma vez obrigada...
Anonymous said
at 3:52 pm on Nov 1, 2008
Olá, Carla. Podes usar este material, sim.
Estou preocupada com a Ledi.
Abra@os
Anonymous said
at 4:11 pm on Nov 1, 2008
Professora:vou usar o material...quanto a Ledi, eu lhe enviei um e-mail sobre este assunto...a sra. recebeu?Abraços e obrigada.
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 1:38 pm on Nov 4, 2008
Olá, Carla
Já nos "falamos" por mail, mas para que fique o registro: recebi, sim. Abra@os
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 1:55 pm on Nov 4, 2008
Pessoal, no link abaixo, mais para o final da página, vocês encontram algumas "consultas" sobre gagueira e as respectivas respostas. Uma delas aborda a questão da gagueira X canto: http://www.abragagueira.org.br/schiefer.asp
Outros links que abordam esta questão:
http://www.gagueira.org.br/mitos_sobre_gagueira.shtml ***
http://www.linguagemdireta.com.br/publicar/conteudo.php?ID=53 ***
http://www.gagueiraonline.info/gagueira_tratamento.htm
Anonymous said
at 12:11 pm on Nov 12, 2008
professora:obrigada pelos links.Usamos todos eles na nossa pesquisa.Acrescentei algumas coisinhas a mais no texto,inclusive a resposta à questão principal.Espero que esteja bom.Abraços.
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 3:27 pm on Nov 21, 2008
Carla, é mesmo comprovado que a gagueira pode ser provocada por traumas? Encontrei este blog: http://blogagueira.blogspot.com/
Abra@os
Anonymous said
at 7:01 pm on Nov 24, 2008
Professora:andei lendo com cuidado algumas postagens que ele faz, e não me parece trauma e sim sistema nervoso, tanto que ele já se deu conta, consegue perceber e controlar-se o que está fazendo com que sua fluência melhore sem precisar controlar a fala.É isto?Eu percebi isto...Será?Abraços.
Anonymous said
at 7:04 pm on Nov 24, 2008
Além do fato de querer ser aceito, bem como a parte que ele fala que gagueja com o colega dele inglês e afirma que o motivo é que não fala bem inglês,ou seja,insegurança...o que não domina, o faz sentir medo e por conseqüência...gaguejar...Certo?Abraços.
Iris Elisabeth Tempel Costa said
at 7:48 pm on Nov 24, 2008
Oi, Carla
Não me fiz entender direito. O blog não tinha relação com minha pergunta. Li que vocês colocam que traumas podem ocasionar gagueira e em outros links aparece que trauma como causa de gagueira é mito. Vocês que estudaram o tema mais que eu acham que pode ficar o trauma como causa de gagueira? Abra@os
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